quarta-feira, 21 de outubro de 2009

A Clientela do Ensino Superior Pago - Um contraponto - Parte Final

Os erros e acertos acadêmicos.


Como vimos no post anterior o indivíduo só consegue a efetividade quando toma completo conhecimento de si, de seus valores, seus reais objetivos.


A maior parte das instituições centra seus esforços (e com sucesso, muitas vezes) nos aspectos de eficiência e eficácia do ensino. Nas boa parte das instituições não se preocupa com os objetivos dos alunos, ou se eles os têm ou não. Normalmente pressupõem que eles os têm e pronto.


Há muito tempo um fato me intriga: por que alguns alunos de faculdade pagam caro para fazer um curso superior e não querem assistir às aulas enquanto a maioria dos alunos de curso para concurso, por exemplo, lotam as salas de aula?

E mais, porque um aluno de cursinho se motiva a estudar se não há provas no cursinho e o aluno da faculdade não?

Alguns já me responderiam de imediato: porque a prova para o aluno do cursinho vem depois: o concurso. Mas e a do aluno de faculdade não virá, ao final do curso? Virá. Seremos todos testados, seja na OAB, seja em concursos, seja pela opinião dos clientes, seja em uma entrevista de emprego.


Mas então porque o aluno de faculdade não foca e utiliza esse tempo precioso para ganhar tempo rumo aos seus objetivos? Talvez porque ele ainda não os tenha. O aluno de concurso já estabeleceu seus objetivos. O de faculdade, embalado pelo continuísmo do ensino médio, às vezes não.


Note-se também que, dentre os próprios alunos de faculdade, que os reais estudantes normalmente têm uma visão mais clara de si próprio, o que querem, o que precisam e por quê estão ali. Os dispersos são reticentes, duvidosos, não sabem muito bem o que vão fazer após o curso, e dizem que vão ver isso depois. Repete-se o padrão.


Mas o que fazer então? A primeira solução é não atrapalhar os que já têm seus objetivos. Deixem-os conquistá-los. Não os atrapalhem. Aos segundos, os que ainda não têm seus objetivos, tentem pelo menos não tutelá-los, substituindo-os em suas decisões.


As instituições de formação, no intuito de "formar" o indivíduo, acabam caindo no erro comum de tutelá-lo, desconsiderando sua personalidade. É o velho erro do "eu sei o que é bom para você".


Esse é o continuísmo da formação fundamental e média. Apesar de estarem entrando na vida adulta, na plenitude dos direitos civis, políticos e intelectuais, muitos alunos acostumaram-se à tutela: dos pais, da escola, da sociedade. Não vêm objetivos além de passar de ano para calar as vozes que os achacam. Tornam-se mestres em eficácia e eficiência, mas medíocres em efetividade. Colar é eficiente. Focar apenas nas provas é eficaz. Efetividade para quê?


E toda tentativa de tutela os empurra mais para a eficácia e eficiência, e menos para a efetividade.


Exemplos? Os dou. Tornou-se praxe em algumas disciplinas exigir que os alunos entreguem seus trabalhos manuscritos. Alguns professores confessam o porquê: "como sabemos que muitos alunos copiam, pelos menos que tenham o trabalho de fazer à mão, para pelo menos lerem o que estão escrevendo". Tutela pura. Equivalente às técnicas de ensino fundamental. Um caminho alternativo não seria confiar nos alunos? Muitos fazem os trabalhos. Tornem para esses as coisas mais simples. Aos que copiam, não brinquem de gato e rato. Vocês não os mudarão assim. Evoluam os métodos de avaliação, respeitando os alunos enquanto profissionais. Mas como então aferir quem sabe ou não? Bastaria o professor sortear alguns trabalhos para que o autor o defendesse. Identificada a cópia, uma conversa com o aluno estimulando-o à reflexão seria muito mais útil para sua formação. Respeito e confiança são fundamentais.


Essa é a base ideológica, por exemplo, do nosso blog. Respeito e confiança. Publico aqui todo meu conhecimento, meus trabalhos, minhas respostas de prova, tudo. Confio nos meus colegas e acredito que farão bom uso do que consegui registrar e gratuitamente aqui disponibilizo. Confio que saberão identificar os meus erros e não os repetirão. Confio que aqueles que apenas copiam nosso conteúdo, sem criticá-lo ou lê-lo, em breve o farão, assim que tomarem as rédeas de suas próprias vidas, definindo seus objetivos. Confio neles.


A boa noticia é que nossa instituição tem essa sensibilidade. É útil à definição dos objetivos o contato com a prática, lema da nossa instituição. Mas se contradiz quanto escorrega na solução fácil da tutela e da desconfiança, por parte de alguns de seus membros. Imposição e aprendizado não costumam serem amigos, quando se trabalha com adultos (que somos, apesar de alguns discordarem).


Se pudesse resumir minha reflexão com algumas sugestões, seriam essas:
  • abaixo a tutela
  • respeito aos objetivos do indivíduo e seus valores
  • confiança e valorização da capacidade de autodeterminação dos alunos
  • incentivos ao estabelecimento de objetivos para aqueles que ainda não os têm

Mais que isso, em termos de efetividade, só depende do aluno.

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