quarta-feira, 21 de outubro de 2009

A Clientela do Ensino Superior Pago - Um contraponto - Parte 1

Interessante o texto proposto para reflexão.


E como a proposta era a reflexão, aqui esta a minha.


Quando comecei a escrever isso, algumas idéias foram brotando. E o texto ficou muito longo. Como nesses tempos de Twitter e Bogosfera quem escreve demais acaba não lido, resolvi tentar conciliar as duas coisas. Farei um contraponto ao texto proposto e desse contraponto desdobrarei em alguns temas a serem abordados em posts posteriores. Dessa forma, se não houver aderência a este post os demais poderão ser ignorados.


O texto, apesar de já antigo (2003), tem um objetivo interessante: pensar qual é o real "cliente" de uma universidade.


A própria proposição do texto nos leva a intuir que esse deve ser um dilema extremamente difícil para os profissionais que conduzem um curso superior, em uma instituição particular. Vamos então ao texto.


Confesso que tenho dificuldades com a abordagem do texto de Maria Helena Michel. Acho-o excessivamente "mercadológico". Agregar valor, superar desafios, globalização, mercados, clientes, matéria-prima, produto são termos mais afetos à lógica produtiva e corporativa. Deixemos-os para as reuniões empresariais.


Obrigo-me, com todo o respeito, a contrapô-lo, para depois tentar refletir, nos próximos posts, de forma diversa.


Se eu pudesse resumir o texto em uma pergunta e uma resposta estas seriam: deveríamos atender o imediatismo do aluno ou o aluno não seria soberano em suas escolhas? O texto opta pela segunda opção, transferindo essa soberania para o "mercado". Seria para o "mercado" que as instituições de ensino focariam seus métodos. Solução pragmática? Eu diria pífia.


Se você não conseguiu chegar à mesma conclusão que eu, explico por que cheguei nela. Na tentativa de responder à pergunta "quem é o real cliente de uma universidade?", três respostas se propõem: o cliente é o aluno, o cliente é a própria convicção acadêmica (a busca do conhecimento por si) ou o cliente é o mercado.


O primeiro candidato a cliente é desqualificado no parágrafo quarto e no sexto. O texto define que as pressões que os alunos exercem não visam à melhoria da qualidade do ensino. Assim, como os objetivos imediatos dos alunos não são nobres, sua satisfação imediata não seria o motivo mais nobre de uma instituição.


No parágrafo quinto se diz que as Universidades se baseiam no envolvimento moral, motivacional de seus membros, objetiva à formação das pessoas e tendem (as universidades) a construir seus próprios objetivos e valores. Essa afirmação nos inclina a acreditar que a autora já optou pela segunda via: a da convicção acadêmica. Esse seria o objetivo nobre, que o aluno não consegue visualizar no seu imediatismo, mas que seria, em última instância, o que deveria ser considerado. Entretanto parece que ela muda de idéia, como veremos mais adiante.


No oitavo parágrafo é que começa a reviravolta do texto. A autora declara a premissa de sua conclusão: a soberania do Mercado. O mercado é que manda e o aluno é o produto. Nega-se, portanto, a soberania da convicção acadêmica. Como já fora negada a soberania do aluno, resta a soberania do mercado, ou da inclusão produtiva.


Na conclusão, no nono parágrafo, propõe-se o utilitarismo que fora negado no parágrafo quinto. Como já se declarou o mercado como o objetivo, resta "convencer" o aluno, pois não se pode negar o risco real que há de um cliente insatisfeito (o aluno) se recusar a pagar pelo bem adquirido. Afinal, até a própria instituição deve-se submeter a esse objetivo, caso contrário, se o mercado rejeitar um profissional, rejeitada será a Instituição de ensino que o formou, assim como, rejeitados serão os professores responsáveis pela formação desse profissional. Utilitarista ou não?


É claro que não se vive de amor ou de vento. Olhar o mercado de trabalho é fundamental. Essa observância, entretanto, não pode colocar o mercado no lugar do indivíduo. O mercado de trabalho é um dos elementos a serem considerados pelo indivíduo na estipulação dos seus objetivos de vida. É o trabalho que serve ao homem e não o homem que serve ao trabalho.


Ousarei, nos próximos posts, a propor caminho diverso do texto. Peço que apenas guardem o a expressão "estipulação dos seus objetivos de vida" que ela será o cimento de todo esse assunto.

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