SIRO DARLAN
Desembargador do TJRJ e membro da Associação Juízes para a democracia e do
Conselho Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente.
Os jornais voltam suas manchetes contra os magistrados que, no exercício de sua função judicante, soltam presos que já cumpriram os pressupostos legais para obterem os benefícios que a lei lhes confere. Influenciados por tais manchetes, o povo se manifesta com criticas veementes à magistratura. Quem está com a razão? Os juízes revoltados reclamam dessas criticas injustas e respondem: apenas cumprimos a lei. Os oportunistas replicam que a lei deve ser interpretada em favor da sociedade e que em ambiente de tanta violência essa justificativa é falha. A história é a mestra da vida e esse é o momento de procurar paradigmas e antecedentes históricos.
A magistratura francesa pré-revolução era formada pela burguesia elitizada que compactuava com a nobreza e se afastara do povo para servir-se do poder que lhe fora outorgado. Distante do povo, deixou de comunicar-se com ele e a linguagem apreendida passou a ser aquela que os detentores dos meios de comunicação social queriam que prevalecesse. Os magistrados franceses, que haviam adquirido tanto prestígio, preocupados muito mais com seus próprios interesses do que com o interesse público, afastaram-se de tal forma de sua missão institucional de distribuir a justiça que contribuíram para a eclosão da Revolução Francesa. Não foi sem razão que foram os primeiros a experimentarem os fios afiados das guilhotinas.
O governo Lula implantou uma série de mecanismos reducionistas desse poder absolutista. Um deles, o Conselho Nacional de Justiça, serviu para disciplinar os excessos e, algumas vezes foi o próprio CNJ o responsável por alguns excessos, nessa fase inicial de ajustes e reajustes. Nesse cenário, a população se deu conta do distanciamento entre a garantia de seus direitos fundamentais e sua magistratura.
Provocados por alguns aproveitadores interessados no enfraquecimento dessa instância de poder o povo aproveita qualquer brecha para atirar suas pedras e gritar com fazem as turbas ensurdecidas contra toda a magistratura sem se dar conta que só o fortalecimento do Judiciário pode garantir ao povo acesso aos seus direitos negados pela falta de políticas públicas do executivo e ausência de ética e de sinceridade no exercício de seus mandatos por parte de muitos parlamentares.
Tenho ouvido muitos lamentos de colegas magistrados que entristecidos e desanimados reclamam do tratamento recebido já que são tantos os sacrifícios na vida de um juiz, tantos dias e noites dedicadas ao estudo e resolução dos processos com graves prejuízos da relação familiar. Tantos os prejuízos para a saúde com aposentadorias e mortes precoces para tão pouco reconhecimento.
Talvez devamos refletir sobre esse distanciamento do povo. Muitos contestam que a Justiça deva atuar socialmente, embora toda sentença seja um ato político em prol da paz social, e, conseqüentemente beneficiando a sociedade. Quantas vezes buscamos sensibilizar magistrados para a necessidade de serem mais abertos ao diálogo com as partes, os advogados, seus servidores e profissionais afins como membros do Ministério Público e da Defensoria Pública e a resposta é negativa? Quantas vezes esperamos respostas positivas para uma maior participação nas ações sociais de aproximação da Justiça de seu povo e não obtivemos? Não são poucos os magistrados que ainda preferem uma imagem plasmada por Piero Calamandrei de juízes insulados em seus gabinetes onde permanecem horas e horas para não sofrerem as influências externas. São juízes para os quais "o que não está nos autos não está no mundo". Isolam-se mais ainda quando alçam aos tribunais superiores onde só se encontram com papeis e querem distância das pessoas.
Há uma realidade, além dos processos que um juiz insulado não consegue captar e se fica longe dos choques do cotidiano, como pode decidir se um doente precisa de remédio, se um adolescente que nunca esteve numa escola rouba para comer, como um operário tem seu salário subtraído pode esperar anos por uma decisão sobre seu direito. Nos dias atuais um juiz que não se comunica, que não justifica para a sociedade suas decisões, mas "só fala nos autos" está fora da sociedade da comunicação que essa grande aldeia se transformou. A sociedade quer juízes integrados com seus anseios, humanos e falíveis que precisam dialogar com todos os segmentos sociais. Entender sem preconceitos o movimento dos sem terra, dos sem teto, dos sem trabalho. Nem mesmos os religiosos mais radicais persistem no silêncio dos claustros. Ansiamos todos por uma magistratura mais comunicativa, mais vibrante e cidadã. Os meios de comunicação estão aguardando a palavra do juiz que fala além do processo e arregaça as mangas para a construção de uma sociedade mais democrática e justa.
Antes que o chamado controle externo nos aniquile enquanto poder, precisamos exercitar nosso controle interno aperfeiçoando nossas instituições que precisam de uma injeção de democracia com uma maior e mais eficaz participação de todos na administração dos tribunais. Investimentos na primeira instância que melhor aparelhada e disponibilizada para a população garantirá um acesso mais universal e gratuito para a distribuição da justiça e, sobretudo, uma política de portas abertas para o povo que é o verdadeiro dono do poder que em seu nome devemos exercer.
Fonte: Jornal do Brasil 27/09/09
Revisado com adaptações de grafia, para o correto escalonamento de leitura no blog.
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quarta-feira, 28 de outubro de 2009
quarta-feira, 21 de outubro de 2009
A Clientela do Ensino Superior Pago - Um contraponto - Parte Final
Os erros e acertos acadêmicos.
Como vimos no post anterior o indivíduo só consegue a efetividade quando toma completo conhecimento de si, de seus valores, seus reais objetivos.
A maior parte das instituições centra seus esforços (e com sucesso, muitas vezes) nos aspectos de eficiência e eficácia do ensino. Nas boa parte das instituições não se preocupa com os objetivos dos alunos, ou se eles os têm ou não. Normalmente pressupõem que eles os têm e pronto.
Há muito tempo um fato me intriga: por que alguns alunos de faculdade pagam caro para fazer um curso superior e não querem assistir às aulas enquanto a maioria dos alunos de curso para concurso, por exemplo, lotam as salas de aula?
E mais, porque um aluno de cursinho se motiva a estudar se não há provas no cursinho e o aluno da faculdade não?
Alguns já me responderiam de imediato: porque a prova para o aluno do cursinho vem depois: o concurso. Mas e a do aluno de faculdade não virá, ao final do curso? Virá. Seremos todos testados, seja na OAB, seja em concursos, seja pela opinião dos clientes, seja em uma entrevista de emprego.
Mas então porque o aluno de faculdade não foca e utiliza esse tempo precioso para ganhar tempo rumo aos seus objetivos? Talvez porque ele ainda não os tenha. O aluno de concurso já estabeleceu seus objetivos. O de faculdade, embalado pelo continuísmo do ensino médio, às vezes não.
Note-se também que, dentre os próprios alunos de faculdade, que os reais estudantes normalmente têm uma visão mais clara de si próprio, o que querem, o que precisam e por quê estão ali. Os dispersos são reticentes, duvidosos, não sabem muito bem o que vão fazer após o curso, e dizem que vão ver isso depois. Repete-se o padrão.
Mas o que fazer então? A primeira solução é não atrapalhar os que já têm seus objetivos. Deixem-os conquistá-los. Não os atrapalhem. Aos segundos, os que ainda não têm seus objetivos, tentem pelo menos não tutelá-los, substituindo-os em suas decisões.
As instituições de formação, no intuito de "formar" o indivíduo, acabam caindo no erro comum de tutelá-lo, desconsiderando sua personalidade. É o velho erro do "eu sei o que é bom para você".
Esse é o continuísmo da formação fundamental e média. Apesar de estarem entrando na vida adulta, na plenitude dos direitos civis, políticos e intelectuais, muitos alunos acostumaram-se à tutela: dos pais, da escola, da sociedade. Não vêm objetivos além de passar de ano para calar as vozes que os achacam. Tornam-se mestres em eficácia e eficiência, mas medíocres em efetividade. Colar é eficiente. Focar apenas nas provas é eficaz. Efetividade para quê?
E toda tentativa de tutela os empurra mais para a eficácia e eficiência, e menos para a efetividade.
Exemplos? Os dou. Tornou-se praxe em algumas disciplinas exigir que os alunos entreguem seus trabalhos manuscritos. Alguns professores confessam o porquê: "como sabemos que muitos alunos copiam, pelos menos que tenham o trabalho de fazer à mão, para pelo menos lerem o que estão escrevendo". Tutela pura. Equivalente às técnicas de ensino fundamental. Um caminho alternativo não seria confiar nos alunos? Muitos fazem os trabalhos. Tornem para esses as coisas mais simples. Aos que copiam, não brinquem de gato e rato. Vocês não os mudarão assim. Evoluam os métodos de avaliação, respeitando os alunos enquanto profissionais. Mas como então aferir quem sabe ou não? Bastaria o professor sortear alguns trabalhos para que o autor o defendesse. Identificada a cópia, uma conversa com o aluno estimulando-o à reflexão seria muito mais útil para sua formação. Respeito e confiança são fundamentais.
Essa é a base ideológica, por exemplo, do nosso blog. Respeito e confiança. Publico aqui todo meu conhecimento, meus trabalhos, minhas respostas de prova, tudo. Confio nos meus colegas e acredito que farão bom uso do que consegui registrar e gratuitamente aqui disponibilizo. Confio que saberão identificar os meus erros e não os repetirão. Confio que aqueles que apenas copiam nosso conteúdo, sem criticá-lo ou lê-lo, em breve o farão, assim que tomarem as rédeas de suas próprias vidas, definindo seus objetivos. Confio neles.
A boa noticia é que nossa instituição tem essa sensibilidade. É útil à definição dos objetivos o contato com a prática, lema da nossa instituição. Mas se contradiz quanto escorrega na solução fácil da tutela e da desconfiança, por parte de alguns de seus membros. Imposição e aprendizado não costumam serem amigos, quando se trabalha com adultos (que somos, apesar de alguns discordarem).
Se pudesse resumir minha reflexão com algumas sugestões, seriam essas:
Mais que isso, em termos de efetividade, só depende do aluno.
Como vimos no post anterior o indivíduo só consegue a efetividade quando toma completo conhecimento de si, de seus valores, seus reais objetivos.
A maior parte das instituições centra seus esforços (e com sucesso, muitas vezes) nos aspectos de eficiência e eficácia do ensino. Nas boa parte das instituições não se preocupa com os objetivos dos alunos, ou se eles os têm ou não. Normalmente pressupõem que eles os têm e pronto.
Há muito tempo um fato me intriga: por que alguns alunos de faculdade pagam caro para fazer um curso superior e não querem assistir às aulas enquanto a maioria dos alunos de curso para concurso, por exemplo, lotam as salas de aula?
E mais, porque um aluno de cursinho se motiva a estudar se não há provas no cursinho e o aluno da faculdade não?
Alguns já me responderiam de imediato: porque a prova para o aluno do cursinho vem depois: o concurso. Mas e a do aluno de faculdade não virá, ao final do curso? Virá. Seremos todos testados, seja na OAB, seja em concursos, seja pela opinião dos clientes, seja em uma entrevista de emprego.
Mas então porque o aluno de faculdade não foca e utiliza esse tempo precioso para ganhar tempo rumo aos seus objetivos? Talvez porque ele ainda não os tenha. O aluno de concurso já estabeleceu seus objetivos. O de faculdade, embalado pelo continuísmo do ensino médio, às vezes não.
Note-se também que, dentre os próprios alunos de faculdade, que os reais estudantes normalmente têm uma visão mais clara de si próprio, o que querem, o que precisam e por quê estão ali. Os dispersos são reticentes, duvidosos, não sabem muito bem o que vão fazer após o curso, e dizem que vão ver isso depois. Repete-se o padrão.
Mas o que fazer então? A primeira solução é não atrapalhar os que já têm seus objetivos. Deixem-os conquistá-los. Não os atrapalhem. Aos segundos, os que ainda não têm seus objetivos, tentem pelo menos não tutelá-los, substituindo-os em suas decisões.
As instituições de formação, no intuito de "formar" o indivíduo, acabam caindo no erro comum de tutelá-lo, desconsiderando sua personalidade. É o velho erro do "eu sei o que é bom para você".
Esse é o continuísmo da formação fundamental e média. Apesar de estarem entrando na vida adulta, na plenitude dos direitos civis, políticos e intelectuais, muitos alunos acostumaram-se à tutela: dos pais, da escola, da sociedade. Não vêm objetivos além de passar de ano para calar as vozes que os achacam. Tornam-se mestres em eficácia e eficiência, mas medíocres em efetividade. Colar é eficiente. Focar apenas nas provas é eficaz. Efetividade para quê?
E toda tentativa de tutela os empurra mais para a eficácia e eficiência, e menos para a efetividade.
Exemplos? Os dou. Tornou-se praxe em algumas disciplinas exigir que os alunos entreguem seus trabalhos manuscritos. Alguns professores confessam o porquê: "como sabemos que muitos alunos copiam, pelos menos que tenham o trabalho de fazer à mão, para pelo menos lerem o que estão escrevendo". Tutela pura. Equivalente às técnicas de ensino fundamental. Um caminho alternativo não seria confiar nos alunos? Muitos fazem os trabalhos. Tornem para esses as coisas mais simples. Aos que copiam, não brinquem de gato e rato. Vocês não os mudarão assim. Evoluam os métodos de avaliação, respeitando os alunos enquanto profissionais. Mas como então aferir quem sabe ou não? Bastaria o professor sortear alguns trabalhos para que o autor o defendesse. Identificada a cópia, uma conversa com o aluno estimulando-o à reflexão seria muito mais útil para sua formação. Respeito e confiança são fundamentais.
Essa é a base ideológica, por exemplo, do nosso blog. Respeito e confiança. Publico aqui todo meu conhecimento, meus trabalhos, minhas respostas de prova, tudo. Confio nos meus colegas e acredito que farão bom uso do que consegui registrar e gratuitamente aqui disponibilizo. Confio que saberão identificar os meus erros e não os repetirão. Confio que aqueles que apenas copiam nosso conteúdo, sem criticá-lo ou lê-lo, em breve o farão, assim que tomarem as rédeas de suas próprias vidas, definindo seus objetivos. Confio neles.
A boa noticia é que nossa instituição tem essa sensibilidade. É útil à definição dos objetivos o contato com a prática, lema da nossa instituição. Mas se contradiz quanto escorrega na solução fácil da tutela e da desconfiança, por parte de alguns de seus membros. Imposição e aprendizado não costumam serem amigos, quando se trabalha com adultos (que somos, apesar de alguns discordarem).
Se pudesse resumir minha reflexão com algumas sugestões, seriam essas:
- abaixo a tutela
- respeito aos objetivos do indivíduo e seus valores
- confiança e valorização da capacidade de autodeterminação dos alunos
- incentivos ao estabelecimento de objetivos para aqueles que ainda não os têm
Mais que isso, em termos de efetividade, só depende do aluno.
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Textos de Formação Acadêmica
A Clientela do Ensino Superior Pago - Um contraponto - Parte 2
Por que penso diferente?
Vocês acompanharam meu contraponto ao texto "A Clientela do Ensino Superior Pago", de Maria Helena Michel.
Naquele post eu terminei por negar a conclusão da autora, mas não pus nada novo em seu lugar. Começarei agora.
Como eu disse, tenho dificuldades de repetir alguns princípios que chamo de "Você S.A.": seja isso, aquilo, aquilo outro, e mais aquilo outro, senão o mercado não vai te aceitar, seus amigos não vão te aceitar e você não vai "pegar" ninguém. E não é porque tenho tendências hippies ou que prego sociedades alternativas. Pelo contrário.
Das poucas certezas que tenho na vida, uma delas é que os extremos, na maior parte dos assuntos, quase sempre são equivocados. Como diziam os antigos: a virtude está no caminho do meio.
Formei-me engenheiro civil pela Universidade de Brasília. Levei sete anos e meio para tanto, no auge da minha capacidade estudantil. Em tese, uma universidade pública, livre das amarras do "lucro capitalista", teria mais chances de promover um curso ideal, correto? Mas não é bem assim.
O lucro, ou melhor, a atividade comercial, tão criticada pelos mais puristas, é fundamental para o equilíbrio dessa relação. Instituições que não "precisam" da aprovação do aluno para definirem seus métodos tornam-se insuladas, excessivamente teóricas e normalmente desnecessariamente difíceis e lentas. Não me esqueço de quando tentava conciliar meus afazeres de trabalho à extensa grade horária do curso de engenharia. Ao tentar alterar de turma para adequar minha carga horária ouvi do meu então coordenador de curso: "não sei porque vocês acham que nós é que temos que nos adaptar ao trabalho de vocês. A vida acadêmica deveria ser sua prioridade. Se for o caso mude de emprego mas não nos adaptaremos à sua necessidade.". Era só uma mudança de turma minha necessidade, mais nada.
A atividade comercial e sua flexibilidade nos ajuda nesse ponto. Quando resolvi voltar aos bancos escolares, tive a certeza que minha atual rotina não comportaria o aspecto conservador de uma instituição pública. Eu precisava de maior flexibilidade e técnicas mais modernas. E nisso as instituições privadas são imbatíveis. Ferramentas como o Blackboard fazem com que a tarefa operacional de estudar seja mais eficiente, otimizando nosso tempo. Isso é fundamental para a eficiência, mas também nos ajuda na eficácia e na efetividade.
Se o insulamento de uma instituição sem fins lucrativos é o primeiro extremo, a absolutização do lucro das escolas Wallita, são o extremo oposto. Estas são instrumentos inúteis, certificam apenas a incompetência e produzem diplomas vazios. Não falarei nelas. Voltemos ao caminho do meio.
Em tempo deixem-me definir o que entendo por eficácia, eficiência e efetividade.
Eficácia seria conquistar uma meta, não se levando em consideração o quanto se "gastou" com os meios. A eficiência é o uso racional dos meios, o menor e mais eficiente caminho entre um ponto e outro. A efetividade é a obtenção do objetivo que motivou a ação. A eficiência refere-se aos meios, a eficácia e a efetividade aos fins. A eficácia é apenas o cumprimento de uma meta (não importa se a meta é útil ou não). A efetividade é escolher e cumprir as metas corretas, ou seja, aquelas que efetivamente contribuam para o objetivo estratégico que motivou a ação.
No nosso exemplo, a eficácia de um aluno está na sua aprovação nas matérias. Um aluno que consegue se formar é um aluno eficaz. A eficiência está na escolha das fontes de informação mais fáceis, mais simples, dos livros mais didáticos, que tornem o atingimento da meta mais fácil e simples. E a efetividade é o objetivo maior de tudo isso: aprender, com vistas a um determinado objetivo de vida.
Como se pode notar a instituição pode ajudar o aluno nos dois primeiros aspectos: fornecendo-o conteúdos e fixando-lhe metas (relativos à eficácia) e ajudando-o a otimizar os métodos e meios de estudo (relativos à eficiência).
Quanto à efetividade, não creio que seja terreno de fácil acesso pela instituição. A efetividade quem produz é o aluno. Produzi-la é um desafio individual.
Aprender é faculdade soberana do indivíduo. O indivíduo só consegue a efetividade quando toma completo conhecimento de si, de seus valores, seus reais objetivos. Seus, e não de seus pais, da sua sociedade ou do mercado. A efetividade só acontece com a maturidade. E não a maturidade de idade, mas a maturidade de personalidade.
Mas como estimular a efetividade? Essa resposta é difícil. Poucas instituições conseguem. Mas atrapalhar é fácil, como veremos no próximo post.
Vocês acompanharam meu contraponto ao texto "A Clientela do Ensino Superior Pago", de Maria Helena Michel.
Naquele post eu terminei por negar a conclusão da autora, mas não pus nada novo em seu lugar. Começarei agora.
Como eu disse, tenho dificuldades de repetir alguns princípios que chamo de "Você S.A.": seja isso, aquilo, aquilo outro, e mais aquilo outro, senão o mercado não vai te aceitar, seus amigos não vão te aceitar e você não vai "pegar" ninguém. E não é porque tenho tendências hippies ou que prego sociedades alternativas. Pelo contrário.
Das poucas certezas que tenho na vida, uma delas é que os extremos, na maior parte dos assuntos, quase sempre são equivocados. Como diziam os antigos: a virtude está no caminho do meio.
Formei-me engenheiro civil pela Universidade de Brasília. Levei sete anos e meio para tanto, no auge da minha capacidade estudantil. Em tese, uma universidade pública, livre das amarras do "lucro capitalista", teria mais chances de promover um curso ideal, correto? Mas não é bem assim.
O lucro, ou melhor, a atividade comercial, tão criticada pelos mais puristas, é fundamental para o equilíbrio dessa relação. Instituições que não "precisam" da aprovação do aluno para definirem seus métodos tornam-se insuladas, excessivamente teóricas e normalmente desnecessariamente difíceis e lentas. Não me esqueço de quando tentava conciliar meus afazeres de trabalho à extensa grade horária do curso de engenharia. Ao tentar alterar de turma para adequar minha carga horária ouvi do meu então coordenador de curso: "não sei porque vocês acham que nós é que temos que nos adaptar ao trabalho de vocês. A vida acadêmica deveria ser sua prioridade. Se for o caso mude de emprego mas não nos adaptaremos à sua necessidade.". Era só uma mudança de turma minha necessidade, mais nada.
A atividade comercial e sua flexibilidade nos ajuda nesse ponto. Quando resolvi voltar aos bancos escolares, tive a certeza que minha atual rotina não comportaria o aspecto conservador de uma instituição pública. Eu precisava de maior flexibilidade e técnicas mais modernas. E nisso as instituições privadas são imbatíveis. Ferramentas como o Blackboard fazem com que a tarefa operacional de estudar seja mais eficiente, otimizando nosso tempo. Isso é fundamental para a eficiência, mas também nos ajuda na eficácia e na efetividade.
Se o insulamento de uma instituição sem fins lucrativos é o primeiro extremo, a absolutização do lucro das escolas Wallita, são o extremo oposto. Estas são instrumentos inúteis, certificam apenas a incompetência e produzem diplomas vazios. Não falarei nelas. Voltemos ao caminho do meio.
Em tempo deixem-me definir o que entendo por eficácia, eficiência e efetividade.
Eficácia seria conquistar uma meta, não se levando em consideração o quanto se "gastou" com os meios. A eficiência é o uso racional dos meios, o menor e mais eficiente caminho entre um ponto e outro. A efetividade é a obtenção do objetivo que motivou a ação. A eficiência refere-se aos meios, a eficácia e a efetividade aos fins. A eficácia é apenas o cumprimento de uma meta (não importa se a meta é útil ou não). A efetividade é escolher e cumprir as metas corretas, ou seja, aquelas que efetivamente contribuam para o objetivo estratégico que motivou a ação.
No nosso exemplo, a eficácia de um aluno está na sua aprovação nas matérias. Um aluno que consegue se formar é um aluno eficaz. A eficiência está na escolha das fontes de informação mais fáceis, mais simples, dos livros mais didáticos, que tornem o atingimento da meta mais fácil e simples. E a efetividade é o objetivo maior de tudo isso: aprender, com vistas a um determinado objetivo de vida.
Como se pode notar a instituição pode ajudar o aluno nos dois primeiros aspectos: fornecendo-o conteúdos e fixando-lhe metas (relativos à eficácia) e ajudando-o a otimizar os métodos e meios de estudo (relativos à eficiência).
Quanto à efetividade, não creio que seja terreno de fácil acesso pela instituição. A efetividade quem produz é o aluno. Produzi-la é um desafio individual.
Aprender é faculdade soberana do indivíduo. O indivíduo só consegue a efetividade quando toma completo conhecimento de si, de seus valores, seus reais objetivos. Seus, e não de seus pais, da sua sociedade ou do mercado. A efetividade só acontece com a maturidade. E não a maturidade de idade, mas a maturidade de personalidade.
Mas como estimular a efetividade? Essa resposta é difícil. Poucas instituições conseguem. Mas atrapalhar é fácil, como veremos no próximo post.
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Textos de Formação Acadêmica
A Clientela do Ensino Superior Pago - Um contraponto - Parte 1
Interessante o texto proposto para reflexão.
E como a proposta era a reflexão, aqui esta a minha.
Quando comecei a escrever isso, algumas idéias foram brotando. E o texto ficou muito longo. Como nesses tempos de Twitter e Bogosfera quem escreve demais acaba não lido, resolvi tentar conciliar as duas coisas. Farei um contraponto ao texto proposto e desse contraponto desdobrarei em alguns temas a serem abordados em posts posteriores. Dessa forma, se não houver aderência a este post os demais poderão ser ignorados.
O texto, apesar de já antigo (2003), tem um objetivo interessante: pensar qual é o real "cliente" de uma universidade.
A própria proposição do texto nos leva a intuir que esse deve ser um dilema extremamente difícil para os profissionais que conduzem um curso superior, em uma instituição particular. Vamos então ao texto.
Confesso que tenho dificuldades com a abordagem do texto de Maria Helena Michel. Acho-o excessivamente "mercadológico". Agregar valor, superar desafios, globalização, mercados, clientes, matéria-prima, produto são termos mais afetos à lógica produtiva e corporativa. Deixemos-os para as reuniões empresariais.
Obrigo-me, com todo o respeito, a contrapô-lo, para depois tentar refletir, nos próximos posts, de forma diversa.
Se eu pudesse resumir o texto em uma pergunta e uma resposta estas seriam: deveríamos atender o imediatismo do aluno ou o aluno não seria soberano em suas escolhas? O texto opta pela segunda opção, transferindo essa soberania para o "mercado". Seria para o "mercado" que as instituições de ensino focariam seus métodos. Solução pragmática? Eu diria pífia.
Se você não conseguiu chegar à mesma conclusão que eu, explico por que cheguei nela. Na tentativa de responder à pergunta "quem é o real cliente de uma universidade?", três respostas se propõem: o cliente é o aluno, o cliente é a própria convicção acadêmica (a busca do conhecimento por si) ou o cliente é o mercado.
O primeiro candidato a cliente é desqualificado no parágrafo quarto e no sexto. O texto define que as pressões que os alunos exercem não visam à melhoria da qualidade do ensino. Assim, como os objetivos imediatos dos alunos não são nobres, sua satisfação imediata não seria o motivo mais nobre de uma instituição.
No parágrafo quinto se diz que as Universidades se baseiam no envolvimento moral, motivacional de seus membros, objetiva à formação das pessoas e tendem (as universidades) a construir seus próprios objetivos e valores. Essa afirmação nos inclina a acreditar que a autora já optou pela segunda via: a da convicção acadêmica. Esse seria o objetivo nobre, que o aluno não consegue visualizar no seu imediatismo, mas que seria, em última instância, o que deveria ser considerado. Entretanto parece que ela muda de idéia, como veremos mais adiante.
No oitavo parágrafo é que começa a reviravolta do texto. A autora declara a premissa de sua conclusão: a soberania do Mercado. O mercado é que manda e o aluno é o produto. Nega-se, portanto, a soberania da convicção acadêmica. Como já fora negada a soberania do aluno, resta a soberania do mercado, ou da inclusão produtiva.
Na conclusão, no nono parágrafo, propõe-se o utilitarismo que fora negado no parágrafo quinto. Como já se declarou o mercado como o objetivo, resta "convencer" o aluno, pois não se pode negar o risco real que há de um cliente insatisfeito (o aluno) se recusar a pagar pelo bem adquirido. Afinal, até a própria instituição deve-se submeter a esse objetivo, caso contrário, se o mercado rejeitar um profissional, rejeitada será a Instituição de ensino que o formou, assim como, rejeitados serão os professores responsáveis pela formação desse profissional. Utilitarista ou não?
É claro que não se vive de amor ou de vento. Olhar o mercado de trabalho é fundamental. Essa observância, entretanto, não pode colocar o mercado no lugar do indivíduo. O mercado de trabalho é um dos elementos a serem considerados pelo indivíduo na estipulação dos seus objetivos de vida. É o trabalho que serve ao homem e não o homem que serve ao trabalho.
Ousarei, nos próximos posts, a propor caminho diverso do texto. Peço que apenas guardem o a expressão "estipulação dos seus objetivos de vida" que ela será o cimento de todo esse assunto.
E como a proposta era a reflexão, aqui esta a minha.
Quando comecei a escrever isso, algumas idéias foram brotando. E o texto ficou muito longo. Como nesses tempos de Twitter e Bogosfera quem escreve demais acaba não lido, resolvi tentar conciliar as duas coisas. Farei um contraponto ao texto proposto e desse contraponto desdobrarei em alguns temas a serem abordados em posts posteriores. Dessa forma, se não houver aderência a este post os demais poderão ser ignorados.
O texto, apesar de já antigo (2003), tem um objetivo interessante: pensar qual é o real "cliente" de uma universidade.
A própria proposição do texto nos leva a intuir que esse deve ser um dilema extremamente difícil para os profissionais que conduzem um curso superior, em uma instituição particular. Vamos então ao texto.
Confesso que tenho dificuldades com a abordagem do texto de Maria Helena Michel. Acho-o excessivamente "mercadológico". Agregar valor, superar desafios, globalização, mercados, clientes, matéria-prima, produto são termos mais afetos à lógica produtiva e corporativa. Deixemos-os para as reuniões empresariais.
Obrigo-me, com todo o respeito, a contrapô-lo, para depois tentar refletir, nos próximos posts, de forma diversa.
Se eu pudesse resumir o texto em uma pergunta e uma resposta estas seriam: deveríamos atender o imediatismo do aluno ou o aluno não seria soberano em suas escolhas? O texto opta pela segunda opção, transferindo essa soberania para o "mercado". Seria para o "mercado" que as instituições de ensino focariam seus métodos. Solução pragmática? Eu diria pífia.
Se você não conseguiu chegar à mesma conclusão que eu, explico por que cheguei nela. Na tentativa de responder à pergunta "quem é o real cliente de uma universidade?", três respostas se propõem: o cliente é o aluno, o cliente é a própria convicção acadêmica (a busca do conhecimento por si) ou o cliente é o mercado.
O primeiro candidato a cliente é desqualificado no parágrafo quarto e no sexto. O texto define que as pressões que os alunos exercem não visam à melhoria da qualidade do ensino. Assim, como os objetivos imediatos dos alunos não são nobres, sua satisfação imediata não seria o motivo mais nobre de uma instituição.
No parágrafo quinto se diz que as Universidades se baseiam no envolvimento moral, motivacional de seus membros, objetiva à formação das pessoas e tendem (as universidades) a construir seus próprios objetivos e valores. Essa afirmação nos inclina a acreditar que a autora já optou pela segunda via: a da convicção acadêmica. Esse seria o objetivo nobre, que o aluno não consegue visualizar no seu imediatismo, mas que seria, em última instância, o que deveria ser considerado. Entretanto parece que ela muda de idéia, como veremos mais adiante.
No oitavo parágrafo é que começa a reviravolta do texto. A autora declara a premissa de sua conclusão: a soberania do Mercado. O mercado é que manda e o aluno é o produto. Nega-se, portanto, a soberania da convicção acadêmica. Como já fora negada a soberania do aluno, resta a soberania do mercado, ou da inclusão produtiva.
Na conclusão, no nono parágrafo, propõe-se o utilitarismo que fora negado no parágrafo quinto. Como já se declarou o mercado como o objetivo, resta "convencer" o aluno, pois não se pode negar o risco real que há de um cliente insatisfeito (o aluno) se recusar a pagar pelo bem adquirido. Afinal, até a própria instituição deve-se submeter a esse objetivo, caso contrário, se o mercado rejeitar um profissional, rejeitada será a Instituição de ensino que o formou, assim como, rejeitados serão os professores responsáveis pela formação desse profissional. Utilitarista ou não?
É claro que não se vive de amor ou de vento. Olhar o mercado de trabalho é fundamental. Essa observância, entretanto, não pode colocar o mercado no lugar do indivíduo. O mercado de trabalho é um dos elementos a serem considerados pelo indivíduo na estipulação dos seus objetivos de vida. É o trabalho que serve ao homem e não o homem que serve ao trabalho.
Ousarei, nos próximos posts, a propor caminho diverso do texto. Peço que apenas guardem o a expressão "estipulação dos seus objetivos de vida" que ela será o cimento de todo esse assunto.
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A clientela do ensino superior pago
Por MARIA HELENA MICHEL
1. O século XX foi testemunha de grandes transformações. No mundo dos negócios, o acirramento da globalização dos mercados, a evolução da telecomunicação e informática, o desenvolvimento tecnológico, mudaram a vida das empresas, trazendo o fantasma da concorrência. Neste cenário, ressurge a figura do "cliente", como entidade soberana, capaz de definir quem fica e quem sai do mercado. Estudos e técnicas são avidamente desenvolvidos e consumidos para aperfeiçoar formas de satisfazer o cliente, ouvi-lo, fidelizá-lo, perceber suas necessidades, antecipá-las, agregar valor aos produtos, surpreendê-lo, conquistá-lo.
2. Não estão erradas as organizações e o futuro não aponta para realidade diferente. O cliente aprendeu a reconhecer e exigir qualidade nos produtos. Ele não quer apenas qualidade intrínseca; ele quer valor agregado, rapidez, atendimento personalizado, pagamento facilitado, promoções, troca, manutenção etc. Idêntica análise, porém, não pode ser feita quando se trata de instituições de ensino pago, particularmente, as de ensino superior. Grande parte da educação superior em todo o mundo é financiada por mensalidades escolares. No Brasil, cerca de dois terços da população universitária estão nas escolas privadas. Inúmeras vezes, professores da rede privada têm se queixado de ser "lembrados" pelos alunos que "eles" são seus clientes, porque sua mensalidade paga os salários dos professores.
3. O ambiente universitário, porém, merece melhor análise. O aluno, ao assinar um contrato com a instituição, assume uma relação de compromisso e de obrigações.
4. Isso pode gerar situações de tensão e pressões. Ocorre que, em geral, as "pressões" que os alunos exercem não visam à melhoria da qualidade do ensino, mas, ao atendimento das suas necessidades imediatas, mediocrizando, significativamente, a sua própria formação. Vejamos alguns exemplos: provas (adiar, fazer em grupos, com consulta, substituir por trabalhos), freqüência (faltar à aula, chegar tarde e/ou sair cedo e "ganhar" presença integral), atividades (atrasar entrega de trabalhos, flexibilizar exigências, prazos), entre muitos outros. Porém, urge perguntar: é o aluno o cliente de uma instituição de ensino pago? Cremos que uma resposta afirmativa a essa pergunta, embora tenha grande consenso na comunidade universitária, é fruto de uma análise superficial, equivocada e prejudicial para todos: aluno, professores, instituição.
5. Inicialmente, as instituições de ensino pago têm objetivos e produtos diferentes das organizações empresariais, chamadas utilitárias (comércio e indústria). Enquanto estas são centradas nos objetivos econômicos, calculistas, as universidades (organizações normativas) se baseiam no envolvimento moral, motivacional de seus membros, objetiva à formação das pessoas e tendem a construir seus próprios objetivos e valores.
6. Outra questão é a lógica na qual está inserida a satisfação do cliente: atendimento e bem-estar imediato. Ao adquirir um bem, o cliente tem o direito de ser atendido eficientemente, levar o melhor produto, pagar o menor preço, no menor tempo e sem burocracia. Ele não pode perder tempo, nem se desgastar com a compra. Aplicar esta lógica à sala de aula significa que o professor deverá satisfazer o aluno todos os dias: atender às suas reivindicações, seus desejos, resolver seus problemas. E mais: não poderá reprová-lo, se ele tiver pago a mensalidade em dia! Isso significa transferir para o aluno a decisão "do quê" aprender, "como" aprender, "quando", e, mesmo, "se" ele quer aprender alguma coisa no curso. Talvez, ele fique mais satisfeito, porque as atividades curriculares não são sempre prazerosas. Nas mais das vezes, são pesadas, cansativas, requerem esforço, raciocínio, dedicação, tempo; e, não necessariamente, são do interesse imediato do aluno.
7. Mas, não se pode confundir "adquirir" conhecimento com "comprar" conhecimento. Vejamos a analogia com a situação de um doente que procura ajuda médica. A pessoa paga a consulta e recebe uma receita e orientações de procedimento. A receita e as orientações são, apenas, parte da solução. A cura dependerá da postura, das providências, da vontade e responsabilidade do paciente em seguir corretamente as instruções. Da mesma forma, a formação profissional do aluno é o resultado do "casamento" entre os recursos que a escola oferece (professores, atividades, equipamentos, conhecimento) e o esforço dele em se transformar (vontade, dedicação, motivação, trabalho).
8. Para se tornar um profissional disputado pelo mercado de trabalho, o aluno necessita adquirir um conjunto de competências, conhecimento, habilidades, capacidades, consciência e formação política, ética e cidadã. Ele não vai à escola adquirir um produto; o aluno "é" o produto. É "ele" quem precisa ter qualidade, instrução, formação e instrumentalização. As atividades, os professores, os equipamentos e o conhecimento são instrumentos de construção desse produto.
9. Formação acadêmica e profissional não são produtos tangíveis; não podem ser "vendidos" como cereais em prateleiras de supermercados. É tarefa nobre; processos longos, internalizados, numa relação professor/aluno, nem sempre leve e fácil. Não traz satisfação imediata, mas, é fundamental para o seu crescimento e formação. O objetivo da universidade é formar o melhor profissional para ocupar a melhor posição no mercado de trabalho. Seu "cliente" não é, portanto, o aluno, é o "mercado de trabalho". Este, sim, tem que ficar satisfeito com a sua aquisição. E não se pode perder de vista que o mercado está cada dia mais exigente. Por isso, há que se esclarecer o "aparente" paradoxo: deve a universidade oferecer satisfação imediata ou proporcionar formação integral aos seus alunos? Estes são clientes ou matéria-prima em transformação? Devemos nos aprofundar nessa discussão, envolvendo, inclusive, o aluno, pois, não se pode negar o risco real que há de um cliente insatisfeito se recusar a pagar pelo bem adquirido. Em tempos pouco remotos, as universidades selecionavam os alunos que queriam ter em seus quadros. Atualmente, o ensino universitário brasileiro vive preocupantes sinais de ociosidade de vagas e inadimplência. O aluno, hoje, escolhe em qual universidade vai estudar; e o mercado a universidade que vai formar seus profissionais. À medida que o mercado rejeitar um profissional, rejeitada será a Instituição de ensino que o formou, assim como, rejeitados serão os professores responsáveis pela formação desse profissional.
Fonte: Jornal Estado de Minas, de 13/11/2003.
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