quarta-feira, 21 de outubro de 2009

A Clientela do Ensino Superior Pago - Um contraponto - Parte 2

Por que penso diferente?


Vocês acompanharam meu contraponto ao texto "A Clientela do Ensino Superior Pago", de Maria Helena Michel.


Naquele post eu terminei por negar a conclusão da autora, mas não pus nada novo em seu lugar. Começarei agora.


Como eu disse, tenho dificuldades de repetir alguns princípios que chamo de "Você S.A.": seja isso, aquilo, aquilo outro, e mais aquilo outro, senão o mercado não vai te aceitar, seus amigos não vão te aceitar e você não vai "pegar" ninguém. E não é porque tenho tendências hippies ou que prego sociedades alternativas. Pelo contrário.


Das poucas certezas que tenho na vida, uma delas é que os extremos, na maior parte dos assuntos, quase sempre são equivocados. Como diziam os antigos: a virtude está no caminho do meio.


Formei-me engenheiro civil pela Universidade de Brasília. Levei sete anos e meio para tanto, no auge da minha capacidade estudantil. Em tese, uma universidade pública, livre das amarras do "lucro capitalista", teria mais chances de promover um curso ideal, correto? Mas não é bem assim.


O lucro, ou melhor, a atividade comercial, tão criticada pelos mais puristas, é fundamental para o equilíbrio dessa relação. Instituições que não "precisam" da aprovação do aluno para definirem seus métodos tornam-se insuladas, excessivamente teóricas e normalmente desnecessariamente difíceis e lentas. Não me esqueço de quando tentava conciliar meus afazeres de trabalho à extensa grade horária do curso de engenharia. Ao tentar alterar de turma para adequar minha carga horária ouvi do meu então coordenador de curso: "não sei porque vocês acham que nós é que temos que nos adaptar ao trabalho de vocês. A vida acadêmica deveria ser sua prioridade. Se for o caso mude de emprego mas não nos adaptaremos à sua necessidade.". Era só uma mudança de turma minha necessidade, mais nada.


A atividade comercial e sua flexibilidade nos ajuda nesse ponto. Quando resolvi voltar aos bancos escolares, tive a certeza que minha atual rotina não comportaria o aspecto conservador de uma instituição pública. Eu precisava de maior flexibilidade e técnicas mais modernas. E nisso as instituições privadas são imbatíveis. Ferramentas como o Blackboard fazem com que a tarefa operacional de estudar seja mais eficiente, otimizando nosso tempo. Isso é fundamental para a eficiência, mas também nos ajuda na eficácia e na efetividade.


Se o insulamento de uma instituição sem fins lucrativos é o primeiro extremo, a absolutização do lucro das escolas Wallita, são o extremo oposto. Estas são instrumentos inúteis, certificam apenas a incompetência e produzem diplomas vazios. Não falarei nelas. Voltemos ao caminho do meio.


Em tempo deixem-me definir o que entendo por eficácia, eficiência e efetividade.


Eficácia seria conquistar uma meta, não se levando em consideração o quanto se "gastou" com os meios. A eficiência é o uso racional dos meios, o menor e mais eficiente caminho entre um ponto e outro. A efetividade é a obtenção do objetivo que motivou a ação. A eficiência refere-se aos meios, a eficácia e a efetividade aos fins. A eficácia é apenas o cumprimento de uma meta (não importa se a meta é útil ou não). A efetividade é escolher e cumprir as metas corretas, ou seja, aquelas que efetivamente contribuam para o objetivo estratégico que motivou a ação.


No nosso exemplo, a eficácia de um aluno está na sua aprovação nas matérias. Um aluno que consegue se formar é um aluno eficaz. A eficiência está na escolha das fontes de informação mais fáceis, mais simples, dos livros mais didáticos, que tornem o atingimento da meta mais fácil e simples. E a efetividade é o objetivo maior de tudo isso: aprender, com vistas a um determinado objetivo de vida.


Como se pode notar a instituição pode ajudar o aluno nos dois primeiros aspectos: fornecendo-o conteúdos e fixando-lhe metas (relativos à eficácia) e ajudando-o a otimizar os métodos e meios de estudo (relativos à eficiência).


Quanto à efetividade, não creio que seja terreno de fácil acesso pela instituição. A efetividade quem produz é o aluno. Produzi-la é um desafio individual.


Aprender é faculdade soberana do indivíduo. O indivíduo só consegue a efetividade quando toma completo conhecimento de si, de seus valores, seus reais objetivos. Seus, e não de seus pais, da sua sociedade ou do mercado. A efetividade só acontece com a maturidade. E não a maturidade de idade, mas a maturidade de personalidade.


Mas como estimular a efetividade? Essa resposta é difícil. Poucas instituições conseguem. Mas atrapalhar é fácil, como veremos no próximo post.

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